Herberto Helder é o mais autêntico poeta órfico português, é o poeta do puro sentimento e da ligação com o mundo. Na sua poesia sentem-se, no espaço inferior, seres e elementos puros, tais como «o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe». A sua poesia representa uma doação às coisas mínimas, humildade e plenitude, excesso e inocência, alegria e terror, desejo e angústia, esplendor e obscuridade e, paralelamente, a celebração e glorificação do «mundo aberto», do «fogo essencial». Herberto Helder representa uma poesia que contém uma vasta intersecção de relações infinitas. A sua poesia atinge igualmente momentos exemplares de purificação formal e interior que são demonstrados numa maravilhosa imaginação poética. O valor excepcional da sua poesia não se revela apenas a nível formal, não querendo com esta afirmação menosprezar o facto de Herberto Helder revelar uma profunda ciência poética nos seus poemas.
O que principalmente distingue este poeta é o seu poder visionário, o sentimento transfigurador, a autenticidade dos seus temas cósmicos, o sentido do originário ou do poema como realidade originária, estando bem patente na sua obra uma intimidade profunda consigo mesma. A sua poesia tem o carácter dos grandes visionários como Rilke e Wiliam Blake, sendo que os seus temas se transcendem num só tempo para o ponto extremo de violência onde os contrários se anulam. A experiência particular do poeta transcende-se num acto absoluto, em que o poema é o lugar onde a existência e o espírito, a matéria e a alma se encontram e se fundem. Segundo António Ramos Rosa, o barroquismo e o preciosismo, ainda que não sendo excessivos, são defeitos a assinalar na poesia da Herberto Helder.
A obra de Herberto Helder é mais poética do que literária, porque nele o dom supera o talento e a visão e a experiência fundem-se no poema. O seu carácter de poeta órfico e visionário tem ascendência em Friedrich Hölderlin e Rainer Maria Rilke, dois dos principais nomes do orfismo e também na gravidade do misticismo erótico de Pierre Jean Jouve, na sumptuosidade e fulgor de Vicente Aleixandre, na nobre violência do discurso poético de Pablo Neruda e por fim na ressonância cósmica de Dylan Thomas. No orfismo «a magnífica violência do amor» traduz-se num erotismo que se propaga a todo o universo e se insere no ser da poesia, em que esta é o símbolo que se aplica ao amor. A poesia atinge assim profundidade para revelar a unidade primordial do mundo, ou seja, a unidade deste com o espírito, já que o poeta órfico identifica esta unidade como a manifestação mais sublime do amor. O poeta pretende atingir o espaço uno, onde o interior e o exterior não estão divididos, onde o espírito, as coisas e os seres se comunicam através da poesia, ou seja, através da transcendência da realidade aparente e da falsa interioridade que nos separa do exterior, das coisas humildes e mínimas.
Ao enunciar o carácter do poeta órfico, Rilke afirma que «a nossa tarefa é impregnar esta terra provisória e perecível tão profundamente no nosso espírito e com tanta paixão e paciência que a sua essência ressuscite em nós invivel» (in Suplemento Vida Literária (nº 154), Diário de Lisboa, 6 de Julho de 1961), demonstrando assim que o poeta luta contra os limites para se expôr à força da indeterminação e da «pura violência do ser», porém, é dentro desses limites que o poeta experimenta o ilimitado. Rilke diz ainda que «todas as coisas ressoam a profundidade infinita, todos os elementos se reunem com o Mundo» ( Ibid. ), sendo que, desta forma, o espaço órfico é o resultado da união do terrestre revelado como espaço interior, espaço de unidade essencial do espírito que se encontra no e pelo mundo.
Podemos assim caracterizar a poesia de Herberto Helder como uma poesia transfigurada traduzida por uma linguagem visionária que nos apresenta a profundidade elementar e original própria da grande poesia. Herberto Helder traz à poesia contemporânea portuguesa a profundidade cósmica de que ela parece desprovida.
O que principalmente distingue este poeta é o seu poder visionário, o sentimento transfigurador, a autenticidade dos seus temas cósmicos, o sentido do originário ou do poema como realidade originária, estando bem patente na sua obra uma intimidade profunda consigo mesma. A sua poesia tem o carácter dos grandes visionários como Rilke e Wiliam Blake, sendo que os seus temas se transcendem num só tempo para o ponto extremo de violência onde os contrários se anulam. A experiência particular do poeta transcende-se num acto absoluto, em que o poema é o lugar onde a existência e o espírito, a matéria e a alma se encontram e se fundem. Segundo António Ramos Rosa, o barroquismo e o preciosismo, ainda que não sendo excessivos, são defeitos a assinalar na poesia da Herberto Helder.
A obra de Herberto Helder é mais poética do que literária, porque nele o dom supera o talento e a visão e a experiência fundem-se no poema. O seu carácter de poeta órfico e visionário tem ascendência em Friedrich Hölderlin e Rainer Maria Rilke, dois dos principais nomes do orfismo e também na gravidade do misticismo erótico de Pierre Jean Jouve, na sumptuosidade e fulgor de Vicente Aleixandre, na nobre violência do discurso poético de Pablo Neruda e por fim na ressonância cósmica de Dylan Thomas. No orfismo «a magnífica violência do amor» traduz-se num erotismo que se propaga a todo o universo e se insere no ser da poesia, em que esta é o símbolo que se aplica ao amor. A poesia atinge assim profundidade para revelar a unidade primordial do mundo, ou seja, a unidade deste com o espírito, já que o poeta órfico identifica esta unidade como a manifestação mais sublime do amor. O poeta pretende atingir o espaço uno, onde o interior e o exterior não estão divididos, onde o espírito, as coisas e os seres se comunicam através da poesia, ou seja, através da transcendência da realidade aparente e da falsa interioridade que nos separa do exterior, das coisas humildes e mínimas.
Ao enunciar o carácter do poeta órfico, Rilke afirma que «a nossa tarefa é impregnar esta terra provisória e perecível tão profundamente no nosso espírito e com tanta paixão e paciência que a sua essência ressuscite em nós invivel» (in Suplemento Vida Literária (nº 154), Diário de Lisboa, 6 de Julho de 1961), demonstrando assim que o poeta luta contra os limites para se expôr à força da indeterminação e da «pura violência do ser», porém, é dentro desses limites que o poeta experimenta o ilimitado. Rilke diz ainda que «todas as coisas ressoam a profundidade infinita, todos os elementos se reunem com o Mundo» ( Ibid. ), sendo que, desta forma, o espaço órfico é o resultado da união do terrestre revelado como espaço interior, espaço de unidade essencial do espírito que se encontra no e pelo mundo.
Podemos assim caracterizar a poesia de Herberto Helder como uma poesia transfigurada traduzida por uma linguagem visionária que nos apresenta a profundidade elementar e original própria da grande poesia. Herberto Helder traz à poesia contemporânea portuguesa a profundidade cósmica de que ela parece desprovida.
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