terça-feira, dezembro 13, 2016




José Afonso

«NOTAS DE JOSÉ AFONSO»




Os Vampiros

Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music-hall de exportação. Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a intenção que orientou a génese de Vampiros, entidades destinadas ao desempenho duma função essencialmente laxante ao contrário do que poderá supor o ouvinte menos atento. A fauna hiper-nutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório. Descarreguei a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas. Casualmente acabou-se-me o dinheiro e fiquei em Pombal com um amigo chamado Pité. A noite apanhou-nos desprevenidos e enregelados num pinhal que me lembrou o do rei e outros ambientes brr herdados do Velho Testamento.

EM TEMPO

Em Setembro de 1964, José Afonso, Zélia e os filhos mais novos, chegam a Moçambique e assentam arraiais no Alto Maé. Aí fixam residência, só regressando a Portugal em 1967.
Em meados de 1965, Manuel Simões e Rui Mendes estavam a coordenar os conteúdos para a edição do livro Cantares de José Afonso e, por tal motivo, decidiram escrever ao Zeca a dar-lhe conta do trabalho que tinham em mãos.
Em resposta, o Zeca enviou-lhes de Moçambique 43 Notas sobre a génese das suas Canções, para serem incluídas no Livro.
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Acima se transcreve a «Nota» de José Afonso sobre «Os Vampiros».


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